"Em entrevista para o Brasil de Fato, Wendy Cruz, da Via Campesina em Honduras, o presidente, Manuel Zelaya, aspirava abrir uma brecha para que povo conquiste sua emancipação
Em entrevista para o Brasil de Fato, Wendy Cruz, da Via Campesina em Honduras, o presidente, Manuel Zelaya, aspirava abrir uma brecha para que povo conquiste sua emancipação
Em entrevista para o Brasil de Fato, Wendy Cruz, da Via Campesina em Honduras, o presidente, Manuel Zelaya, aspirava abrir uma brecha para que povo conquiste sua emancipação
Igor Ojeda da Redação
Leia mais: DESDE AQUI
Comunidade internacional repudia golpe em Honduras
“O povo hondurenho está saindo massivamente às ruas contra o golpe”
Ministro confirma regresso de presidente Zelaya a Honduras na próxima quinta-feira
Povo hondurenho esperará nas ruas ao presidente Zelaya
Total isolamento internacional a golpistas em Honduras
Para Wendy Cruz, da Via Campesina em Honduras, o presidente do país, Manuel Zelaya, deposto por meio de golpe de Estado no dia 28, queria “abrir uma brecha para que o povo conquiste sua emancipação” ao propor uma consulta sobre uma Assembleia Constituinte. Em entrevista ao Brasil de Fato por correio eletrônico, esse foi o motivo da reação dos “grupos de poder econômico do país, monopolizado por 13 famílias”.
Zelaya propunha para o mesmo dia 28 uma enquete sobre a quarta urna: ou seja, nas eleições gerais de novembro, em que a população escolheria um novo presidente, deputados e autoridades locais, seria adicionada (caso no dia 28 o povo assim o determinasse) uma consulta sobre a convocação ou não de uma Assembleia Constituinte. Leia, a seguir, a entrevista com a integrante da Via Campesina:
Por que tiraram o presidente Manuel Zelaya da presidência de Honduras?
Porque ele decidiu consultar o povo hondurenho se se instalava uma quarta urna nas eleições do próximo novembro. Os grupos de poder deste país deram um golpe de Estado porque o presidente estava dando participação real ao povo.
Quem são os protagonistas do golpe?
Os grupos de poder econômico do país, monopolizado por 13 famílias, como por exemplo os Kafati, Ferrari, Facuse, Villedas, Larach, Rosental, entre outros. Esse grupo de poder mantém sequestradas todas as instituições do Estado e, inclusive, têm a suas ordens a Corte Suprema de Justiça e o Congresso Nacional da República. Para que você veja como isso se evidencia, há uma hora [cerca de 14hs de Brasília], a Justiça emitiu 25 ordens de captura e ajuizamento paraos principais líderes populares, entre eles, Rafael Alegría, Carlos H. Reyes, Berta Oliva, Juan Barahona e Andrés Pavón. Invocamos ao Dr. Ramón Custodio, da Comissão de Direitos Humanos, que, em vez dele estar defendendo ao golpista Roberto Micheletti Bain deveria estar junto com o povo hondurenho, e que exigimos que nossa democracia não seja violada.
Pode-se dizer que a justiça hondurenha ajudou a fomentar o golpe? Por quê?
Sim, eles tentaram parar a enquete com ordens judiciais da Corte Suprema de Justiça e por meio de recursos de amparo do Ministério Público pedindo sua nulidade. Ordens que nosso presidente não tinha que acatar, já que a enquete é legal, no marco da nossa Lei de Participação Cidadã.
Como se explica o fato de que inclusive membros do partido do presidente tenham apoiado o golpe?
Porque o Partido Liberal está dividido por vários grupos, e os que se opõem são os que formam os grupos de poder, como Roberto Micheletti e Elvin Santos, atual candidato [à presidência pelo Partido Liberal nas eleições de novembro].
A maioria das forças sociais do país está com Zelaya? Por quê?
Todos os movimentos sociais estamos apoiando o presidente Zelaya não porque sejamos de seu partido, mas sim porque acreditamos que devemos derrotar esse modelo econômico neoliberal que não permite aos povos a liberdade de decidir suas próprias políticas de desenvolvimento. Se não pusermos em marcha transformações sociais, isso é impossível de se conseguir. E nosso presidente quis abrir essa brecha para que o povo conquiste sua emancipação.
Que medidas ele vinha tomando no governo?
Não continuar a privatizar os recursos do Estado hondurenho, por exemplo: a Empresa de Energia Elétrica (ENEE), o sistema portuário, o sistema de saúde, entre outros.
Como está a situação hoje em Honduras? Há repressão?
A situação é crítica, estamos vivendo em uma constante intranquilidade de repressão, de toques de recolher, a não permissão de livre trânsito às pessoas que vêm da área rural, a livre expressão. Na manifestação de ontem [29 de junho], em que estavam mais de 50 mil pessoas, nos reprimiram para nos tirar a força de lá, e, para isso, jogaram bombas de gás lacrimogênio, ferindo a mais de 50 pessoas, algumas com armas de brinquedo.
Por que a convocação de uma Assembléia Constituinte é uma demanda histórica dos movimentos sociais?
Porque os grupos de poder vêm submetendo o país a 100 anos de bipartidismo e manipulando a “democracia” a seu favor. Assim, parece que é uma questão de herança ser deputado/a, ocupar qualquer cargo no Estado hondurenho. Convencidos que esta “democracia” é uma falácia dirigida pelos grupos de poder econômico do país, os movimentos sociais exigimos que se faça uma nova Constituição da República, onde todos os setores da sociedade hondurenha possamos estar representados em forma real.
Quais seriam as bases de uma nova Constituição, e por que os protagonistas do golpe a temeriam?
Que fosse elaborada a partir dos diferentes setores da sociedade hondurenha, que por sua vez estivesse representada por camponeses, indígenas, negros, jovens, mulheres, sindicalistas, operários, empresários, entre outros grupos. Os protagonistas do golpe temem porque sabem que o povo hondurenho não está disposto a continuar sob o jugo da oligarquia hondurenha. Pode nos ter marginalizados por um tempo, mas agora exigimos que queremos ser consultados sobre tudo que seja transcendente neste país. Esse grupo golpista vêm, durante muitos anos, através do Congresso Nacional, mantendo seu status quo, e hoje vêem um perigo eminente.
Vocês acreditam que houve participação dos EUA no golpe?
Realmente não sabemos com exatidão, embora eles venham sim empurrando aos hondurenhos esse golpe fatal.
O que você pensa das declarações de Barack Obama sobre o golpe?
Foi importante ao dizer que só reconhece Manuel Zelaya como presidente, mas ainda continuamos preocupados pela posição dos EUA, porque Hillary Clinton [a secretária de Estado estadunidense] disse que não queria opinar sobre o golpe de Estado em Honduras porque não estava segura se foi um golpe de Estado. Isso significa que há desacordos entre eles.
O que vocês esperam que ocorra a partir de agora?
Continuamos com a esperança de restabelecer nossa ordem constitucional com a chegada do senhor presidente da ONU e de nosso presidente Zelaya, mas enquanto isso estamos resistindo porque esse grupo de poder é capaz de tudo. Alertamos a todos os movimentos sociais do mundo a continuar a se solidarizarem com o povo hondurenho, porque, do contrário, esses golpistas seguirão com seu plano."
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Comunidade internacional repudia golpe em Honduras
“O povo hondurenho está saindo massivamente às ruas contra o golpe”
Ministro confirma regresso de presidente Zelaya a Honduras na próxima quinta-feira
Povo hondurenho esperará nas ruas ao presidente Zelaya
Total isolamento internacional a golpistas em Honduras
Para Wendy Cruz, da Via Campesina em Honduras, o presidente do país, Manuel Zelaya, deposto por meio de golpe de Estado no dia 28, queria “abrir uma brecha para que o povo conquiste sua emancipação” ao propor uma consulta sobre uma Assembleia Constituinte. Em entrevista ao Brasil de Fato por correio eletrônico, esse foi o motivo da reação dos “grupos de poder econômico do país, monopolizado por 13 famílias”.
Zelaya propunha para o mesmo dia 28 uma enquete sobre a quarta urna: ou seja, nas eleições gerais de novembro, em que a população escolheria um novo presidente, deputados e autoridades locais, seria adicionada (caso no dia 28 o povo assim o determinasse) uma consulta sobre a convocação ou não de uma Assembleia Constituinte. Leia, a seguir, a entrevista com a integrante da Via Campesina:
Por que tiraram o presidente Manuel Zelaya da presidência de Honduras?
Porque ele decidiu consultar o povo hondurenho se se instalava uma quarta urna nas eleições do próximo novembro. Os grupos de poder deste país deram um golpe de Estado porque o presidente estava dando participação real ao povo.
Quem são os protagonistas do golpe?
Os grupos de poder econômico do país, monopolizado por 13 famílias, como por exemplo os Kafati, Ferrari, Facuse, Villedas, Larach, Rosental, entre outros. Esse grupo de poder mantém sequestradas todas as instituições do Estado e, inclusive, têm a suas ordens a Corte Suprema de Justiça e o Congresso Nacional da República. Para que você veja como isso se evidencia, há uma hora [cerca de 14hs de Brasília], a Justiça emitiu 25 ordens de captura e ajuizamento paraos principais líderes populares, entre eles, Rafael Alegría, Carlos H. Reyes, Berta Oliva, Juan Barahona e Andrés Pavón. Invocamos ao Dr. Ramón Custodio, da Comissão de Direitos Humanos, que, em vez dele estar defendendo ao golpista Roberto Micheletti Bain deveria estar junto com o povo hondurenho, e que exigimos que nossa democracia não seja violada.
Pode-se dizer que a justiça hondurenha ajudou a fomentar o golpe? Por quê?
Sim, eles tentaram parar a enquete com ordens judiciais da Corte Suprema de Justiça e por meio de recursos de amparo do Ministério Público pedindo sua nulidade. Ordens que nosso presidente não tinha que acatar, já que a enquete é legal, no marco da nossa Lei de Participação Cidadã.
Como se explica o fato de que inclusive membros do partido do presidente tenham apoiado o golpe?
Porque o Partido Liberal está dividido por vários grupos, e os que se opõem são os que formam os grupos de poder, como Roberto Micheletti e Elvin Santos, atual candidato [à presidência pelo Partido Liberal nas eleições de novembro].
A maioria das forças sociais do país está com Zelaya? Por quê?
Todos os movimentos sociais estamos apoiando o presidente Zelaya não porque sejamos de seu partido, mas sim porque acreditamos que devemos derrotar esse modelo econômico neoliberal que não permite aos povos a liberdade de decidir suas próprias políticas de desenvolvimento. Se não pusermos em marcha transformações sociais, isso é impossível de se conseguir. E nosso presidente quis abrir essa brecha para que o povo conquiste sua emancipação.
Que medidas ele vinha tomando no governo?
Não continuar a privatizar os recursos do Estado hondurenho, por exemplo: a Empresa de Energia Elétrica (ENEE), o sistema portuário, o sistema de saúde, entre outros.
Como está a situação hoje em Honduras? Há repressão?
A situação é crítica, estamos vivendo em uma constante intranquilidade de repressão, de toques de recolher, a não permissão de livre trânsito às pessoas que vêm da área rural, a livre expressão. Na manifestação de ontem [29 de junho], em que estavam mais de 50 mil pessoas, nos reprimiram para nos tirar a força de lá, e, para isso, jogaram bombas de gás lacrimogênio, ferindo a mais de 50 pessoas, algumas com armas de brinquedo.
Por que a convocação de uma Assembléia Constituinte é uma demanda histórica dos movimentos sociais?
Porque os grupos de poder vêm submetendo o país a 100 anos de bipartidismo e manipulando a “democracia” a seu favor. Assim, parece que é uma questão de herança ser deputado/a, ocupar qualquer cargo no Estado hondurenho. Convencidos que esta “democracia” é uma falácia dirigida pelos grupos de poder econômico do país, os movimentos sociais exigimos que se faça uma nova Constituição da República, onde todos os setores da sociedade hondurenha possamos estar representados em forma real.
Quais seriam as bases de uma nova Constituição, e por que os protagonistas do golpe a temeriam?
Que fosse elaborada a partir dos diferentes setores da sociedade hondurenha, que por sua vez estivesse representada por camponeses, indígenas, negros, jovens, mulheres, sindicalistas, operários, empresários, entre outros grupos. Os protagonistas do golpe temem porque sabem que o povo hondurenho não está disposto a continuar sob o jugo da oligarquia hondurenha. Pode nos ter marginalizados por um tempo, mas agora exigimos que queremos ser consultados sobre tudo que seja transcendente neste país. Esse grupo golpista vêm, durante muitos anos, através do Congresso Nacional, mantendo seu status quo, e hoje vêem um perigo eminente.
Vocês acreditam que houve participação dos EUA no golpe?
Realmente não sabemos com exatidão, embora eles venham sim empurrando aos hondurenhos esse golpe fatal.
O que você pensa das declarações de Barack Obama sobre o golpe?
Foi importante ao dizer que só reconhece Manuel Zelaya como presidente, mas ainda continuamos preocupados pela posição dos EUA, porque Hillary Clinton [a secretária de Estado estadunidense] disse que não queria opinar sobre o golpe de Estado em Honduras porque não estava segura se foi um golpe de Estado. Isso significa que há desacordos entre eles.
O que vocês esperam que ocorra a partir de agora?
Continuamos com a esperança de restabelecer nossa ordem constitucional com a chegada do senhor presidente da ONU e de nosso presidente Zelaya, mas enquanto isso estamos resistindo porque esse grupo de poder é capaz de tudo. Alertamos a todos os movimentos sociais do mundo a continuar a se solidarizarem com o povo hondurenho, porque, do contrário, esses golpistas seguirão com seu plano."
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