Acampamento pela democracia quer barrar governo Temer-Cunha
Para movimentos, impeachment de Dilma deve frear investigações de corrupção e acelerar projetos contra direitos sociais
Pedro Rafael Vilela | Brasil de Fato
Brasilia 13 de abril de 2016 a 20:17
Milhares de pessoas estão acampadas na região central de Brasília desde segunda-feira (11), no chamado “Acampamento Nacional pela Democracia”. Trata-se de uma iniciativa da Frente Brasil Popular, que reúne movimentos populares como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), movimentos de luta por moradia popular, quilombolas e organizações de juventude. Mais de 3 mil pessoas participam da mobilização e prometem permanecer no acampamento pelo menos até domingo (17), dia da votação do pedido de abertura de impeachment contra Dilma Rousseff, na Câmara dos Deputados.
Para Antônio Pereira, da coordenação nacional do MST, até o fim de semana são esperadas mais de 150 mil pessoas em Brasília, que chegarão para a mobilização contra o golpe. “São pessoas que estão vindo de todo o país, inclusive delegações internacionais, como da Argentina e de outros países da América do Sul”, garante.
No acampamento, as tarefas são divididas entre setores que são responsáveis por garantir alimentação, segurança e programação das atividades. Pela manhã, são realizados debates sobre temas como democratização da mídia, criminalização de movimentos populares e direitos sociais e trabalhistas. As tardes estão sendo dedicadas às mobilizações de rua.
Direitos trabalhistas
“Na verdade, não se trata de um golpe contra Dilma ou contra Lula. É um golpe contra a classe trabalhadora, contra todos os direitos que nós conquistamos até aqui”, ressalta Antônio Pereira, líder do MST. Em um debate realizado no acampamento, na manhã desta quarta (13), movimentos populares discutiram justamente o programa apresentado pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), caso assuma o poder.
Segundo o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que participou da atividade, a política de valorização do salário mínimo, adotada na última década, está completamente ameaçada. “A política de valorização do salário mínimo afetou a taxa de lucro das empresas, por isso vão mexer nisso”.
Ele teme ainda graves retrocessos nos direitos trabalhistas. Isso porque um governo de Michel Temer pode agilizar a aprovação do Projeto de Lei 4330, que permitiria que acordos negociados entre patrões e empregados tenham prioridade sobre a legislação trabalhista (CLT). A nova legislação poderia flexibilizar direitos trabalhistas já consolidados, como férias e 13º salário. Em áudio que o vice-presidente gravou e vazou na internet essa semana, ele mesmo afirma que, se assumir a cadeira presidencial, submeterá a classe trabalhadora a “sacrifícios iniciais”, em uma referência explícita a projetos que retiram direitos conquistados a longo da história.
Combate à corrupção
Outro aspecto denunciado por lideranças contrárias ao impeachment é o combate à corrupção. Em vídeo gravado na internet, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que faz oposição ao governo Dilma mas votará contra seu afastamento, descreveu o perfil de quem está por trás desse movimento. “O processo de impeachment é conduzido por um gângster, réu no STF por crime de corrupção e lavagem de dinheiro. Mais da metade dos deputados da comissão do impeachment responde na Justiça por processo de corrupção. Esse é um processo para livrar corrupto da cadeia, isso sim”.
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